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Trabalhador não é máquina: é hora de avançar nas pautas que dignificam a classe trabalhadora

Por Izelda Oro: presidente do Siticom Chapecó

Imagine acordar todos os dias antes do sol nascer, enfrentar horas de transporte público, passar o dia inteiro em pé ou diante de uma máquina, voltar para casa exausto, mal ter tempo para a família e ainda assim ver o salário mal dar conta das contas do mês. Essa é a realidade de 90% dos brasileiros. São milhões de trabalhadores e trabalhadoras que constroem, cuidam, produzem e fazem o país acontecer, mas que há décadas escutam que “ainda não é hora” de conquistar o que é justo.

Pois nós dizemos: a hora é agora!

Mais do que números ou estatísticas, falamos de gente. De vidas que merecem dignidade, tempo de qualidade, segurança financeira e respeito. É por isso que defendemos, com firmeza e esperança, três pautas fundamentais: o fim da escala 6×1; a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais; e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00. Cada uma dessas medidas representa um passo concreto para tornar o Brasil um país mais justo para todos.

 

  1. Fim da escala 6×1: descanso não é luxo, é direito

O modelo 6×1, em que se trabalha seis dias para folgar apenas um, é hoje um dos principais responsáveis pelo esgotamento físico e mental dos trabalhadores. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking mundial de ansiedade e está entre os países com maior índice de depressão relacionada ao trabalho. Além disso, o Ministério da Saúde aponta que o número de afastamentos por transtornos mentais cresceu mais de 30% na última década (mais de 470 mil só em 2024), em grande parte ligados ao excesso de jornada e à falta de descanso.

Adotar modelos com dois dias de descanso semanais já é realidade em muitos setores e países. Empresas que respeitam o tempo de recuperação do trabalhador observam melhora no desempenho e aumento na satisfação geral. O ser humano não foi feito para funcionar como engrenagem, precisa de tempo para si, para a família e para o lazer. Precisamos dar ao trabalhador a oportunidade de viver plenamente, e não apenas sobreviver.

 

  1. Redução da jornada de trabalho: trabalhar menos para viver melhor

O Brasil ainda mantém uma das jornadas semanais mais longas da América Latina, com 44 horas. Na média dos países da OCDE, essa jornada é de cerca de 38 horas. Países como França (35 horas), Alemanha (36) e Chile (recentemente aprovado, 40 horas) já entenderam que menos tempo de trabalho não significa menos produtividade, pelo contrário.

Estudos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) indicam que a redução da jornada pode gerar entre 2 e 2,5 milhões de novos empregos no Brasil, uma vez que a divisão da carga horária exige novas contratações. Além disso, jornadas menores reduzem riscos de acidentes de trabalho, que ainda tiram a vida de mais de 2.500 brasileiros por ano, segundo dados do Anuário Estatístico da Previdência Social.

Trabalhar menos, mas melhor. Defendemos que essa é a chave de um mercado mais saudável, equilibrado e justo para todos.

 

  1. Isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000,00: justiça social!

Hoje, mais de 13 milhões de brasileiros que ganham entre R$ 2.112 e R$ 5.000 pagam imposto de renda, mesmo estando entre os que mais sentem o peso da inflação. De acordo com o Dieese, quem ganha até R$ 5.000 já compromete, em média, mais de 80% da renda com moradia, alimentação e transporte. Cobrar IR de quem mal consegue sobreviver é penalizar os que mais contribuem com o suor do seu trabalho.

Isentar quem ganha até R$ 5.000,00 é reconhecer que esses salários não representam riqueza, mas esforço diário para sobreviver. Essa medida devolveria fôlego para milhões de contribuintes e colocaria mais dinheiro em circulação na economia real, mercados, padarias, lojas de bairro. Isso não é gasto, mas investimento em justiça social!

 

O país só cresce com quem trabalha

Estas não são pautas de um grupo ou de uma categoria. São pautas de um país que precisa construir uma sociedade mais justa, mais saudável e mais equilibrada. Com menos horas de trabalho, mais tempo de vida. Com menos impostos para quem ganha pouco, mais dignidade. Com mais descanso, mais saúde e produtividade.

Não é só a classe trabalhadora que ganha com isso: toda a sociedade se beneficia. Uma população menos exausta, menos endividada e mais motivada produz mais, consome mais, vive mais. É preciso coragem política para enfrentar interesses contrários, mas é ainda mais necessário ter compromisso com a maioria.

Chega de adiar o futuro. O Brasil precisa e pode ser um país onde o trabalhador viva com dignidade, e não apenas sobreviva com esforço.